sexta-feira, 20 de março de 2009

Soneto de Pablo Neruda


Quantas vezes, amor, te amei sem ver-te e talvez sem lembrança,
sem reconhecer teu olhar, sem fitar-te, centaura,
em regiões contrárias, num meio-dia queimante:
era só aromas do cerais que amo.


Talvez te vi, te supus ao passar levantando uma taça
em Angola, à luz da lua de junho,
ou eras tu a cintura daquela guitarra
que toquei nas trevas e ressoou como o mar desmedido.


Te amei sem que o soubesse, e busquei tua memória.
Nas casas vazias entrei com lanterna a roubar teu retrato.
mas eu já não sabia como eras.


De repente enquanto ias comigo te toquei e se deteve em minha vida:
diante de meus olhos estavas, regendo-me, e reinas.
Como fogueira nos bosques o fogo é teu reino.




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